Desperta-me a voz de Leila, sempre rouca do cigarro e da bebida. Abro os olhos e não a vejo. Fecho os olhos e ela me aparece com sua risada.
– Sim, meus peitos são grandes e agora são seus.
– Claro que são meus, respondo-lhe, crente que Leila será minha para sempre.
– Nunca diga “para sempre”. Isso me soa romântico.
– Quero dizer “até a nossa morte”, conserto.
– Nem mesmo isso, ela diz, incisiva.
Enquanto Leila me mostra os seus peitos e sorri despudorada, eu a vejo afastar-se de mim, crescendo enormemente.
Ao longe, ouço a voz rouca de Leila. Leila bem aqui dentro de mim, cantando e dançando rumba no meu peito.
Cansado, fecho o Word. Vou à varanda. Deslumbra-me o nascer do sol. Distante, nuvens avermelhadas desenham formas incríveis no céu. Formas acesas, indefinidas. Forço a imaginação, na tentativa de fazer Leila retornar. Concluo que estou mesmo muito cansado, nenhuma fantasia mais ou menos ordenada e com sentido me ocorre. Decido dormir. Ao virar-me na direção da sala, vejo Leonora, minha mulher, parada no meio da sala, a me observar. Ela sabe do meu esforço para escrever, de toda a dificuldade que venho tendo para elaborar o mínimo texto. Na nossa antiga residência não havia esse problema. Tudo começou depois que nos mudamos para esta casa.
– Então, ela pergunta.
– Escrevi algo sem sentido. Gastei horas... a história não se encaixa...não tem sentido...
– Ora, meu bem, não diga isso. Nem sempre o sentido do texto pertence a quem o escreve. Vamos dormir, vem, olhe só para você, parece tão cansado...
– Vamos, vamos, Le... Leonora, meu bem.
Interessante.Na verdade, mais do que isto: instigante.
ResponderExcluirQue seu blog tenha vida longa.
Obrigada pela visita ao Leitora.