Quantas são as pessoas vergonhosas neste mundo, meu Deus! Quantas são as que, aceitando por obrigação um convite, vão almoçar em restaurante, na presença de outras pessoas que, parecem, têm o costume de ficar observando cada mastigação do outro comensal. Não se sentem então aquelas pessoinhas engolidas pelos olhares glutões, olhares de homens despojados e barrigudos, homens que, fingindo o menor desinteresse, insistem em nos humilhar com suas superiores qualidades de descontração? E as mulheres! Ah, estas são inimitáveis. Sentam-se eretas – é-lhes necessário posicionar-se assim – e com a mais descarada elegância do mundo põem-se a emitir risinhos oculares que, em tudo, já evidencia o deboche e a superioridade.
Quantas são enfim as pessoas que, após sair do restaurante, chegando em casa não se põem ligeiro a encher um suculento prato? E como é bonito juntar a fome à vontade de comer! E como se lambuzam e são ruidosos! Que importam os ruídos da maceração, se estes proporcionam um prazer acrescentado também ao ouvido? Sim, o ouvido é também um órgão do prazer degustativo. Percebe-se mais nitidamente este pormenor quando se morde a maçã e ela faz clotch! Porém toda a descontração no comer desvanece com a etiqueta.
“Não, não, não é assim que se segura o garfo, meu filho. Preste atenção, este copo aqui é para água, este outro para suco. Com esta mão você segura o garfo e com a outra, a faca. Não, não, meu filho, não se deve colocar os cotovelos sobre a mesa. A sopa deve ser tomada sem fazer ruído” – dizem que no Japão isto é muito contra as regras à mesa. Deve-se, sim, tomá-la fazendo biquinho e acompanhar a sucção com bons e audíveis hiisssc!
Agora, vejam vocês que, após haver ceado, põe-se o menino a importunar a mãe, coisa que ela jamais poderia compreender, com insistentes: estou com fome, mamãe! Estou com fome, mamãe! Ainda estou com fome, mamãe!
“O que há com você, meu filho? – pergunta a mãe, já pensando estar o seu principezinho empestado de lombrigas – então não já comeu?
“Comi, responde o inocente, quase já chorando, mas, mamãezinha, morro de fome. Posso pegar uma fruta?
A mãe, piedosa como todas as mães, concede a extravagância, que o menino, faminto, a devora com ruídos e lambuzações incompreensíveis a toda e qualquer regra.
Por aqui, uns comem muito e outros poucos por uma questão inexplicável de mais e menos apetite, mas todos comem bem, principalmente, quando a fome se oferece assim feito desejo, feito DESEJO!
ResponderExcluirbj
Que texto interessante.
ResponderExcluir