terça-feira, 24 de maio de 2011

Soltando os macacos


Ah, como queria ter a liberdade de fazer xixi na rua! Mas não faço por dois motivos: meu animal trava, e, ainda que ele se achasse disposto a botar a cara na rua, decerto que eu, o sujeito do sistema, o retrairia, que isso é feio, que não é direito, que é uma aberração, que não é higiênico etc.
Percebem como sou um humano direitinho? Eu ando na linha, não que o queira, por vontade própria. Não, isso não. Ah, como hoje invejei um macaco! Eu estava na rua, trancado no meu carro, em meio a um trânsito que fluía letargicamente, quando, por força do meu olho doente que tudo vê, reparei, pelo retrovisor interno, um macaco que vinha no carro de trás. Olhei novamente, para comprovar que se tratava mesmo de um símio, e, que susto! Em pleno asfalto, dentro do seu automóvel, um macaco, gordo, viçoso, inquestionável. Ele devorava uma pinha. Levava com voracidade um tanto à boca, mexia, remexia os caroços lá dentro e logo, alongando os beiços para a frente, atirava-os à rua. E logo um tanto da casca, antes lambida e relambida pela voraz língua de macaco, foi atirada pela janela.  De repente, um buzinaço. Olhei à frente e vi a pista vazia. Era o macaco gordo quem buzinava no carro de trás. Ele, como se não lhe bastasse a buzina para que eu acordasse e levasse meu carro adiante, com o braço e a cara postados fora da janela, ainda me gritava:
- Sai da frente, filho da puta!